"Eu prefiro ser um otimista e estar errado do que ser um pessimista e estar certo"
Albert Einstein

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Texto complementar - Revolução Inglesa

Pessoal,
 Eis o texto que prometi publicar sobre a aula de sábado
Abraços

Luiz


A Revolução Inglesa no século XVII

A Revolução Inglesa (1640-1688) marca a transição do Estado feudal absolutista para o Estado liberal capitalista na Inglaterra. Essa transformação perpassa não só a disputa pelo poder ou por mais participação política da burguesia , mas também abrange os conflitos religiosos entre católicos, anglicanos e calvinistas (puritanos).
A importância da Revolução Inglesa está na abertura do caminho para a Inglaterra se tornar a maior potência naval e capitalista durante o século XVIII e XIX, lançando as bases políticas e econômicas necessárias para a Revolução Industrial e para o Imperialismo inglês.

Desde 1215 a Inglaterra se tornava uma monarquia parlamentar, com a criação da Magna Carta (Bill of Rights), um conjunto de leis que limitava o poder régio em relação ao Parlamento composto pela nobreza.
No século XVI, Henrique VIII (1491-1547), da dinastia Tudor, deu início a uma política que buscava centralizar o poder em suas mãos, confiscando terras da Igreja e fundando uma nova religião, o Anglicanismo, através do Ato de Supremacia aprovado pelo Parlamento em 1534. A criação da Igreja Anglicana, a qual misturava algumas idéias do Calvinismo e do Catolicismo, foi na prática uma tentativa de Henrique VIII fortalecer seu poder através da legitimação religiosa, ou seja, através da justificação de seu poder pela vontade de Deus, pois o rei seria o líder espiritual dessa religião. Henrique VIII aproveitou o contexto dos conflitos religiosos para perseguir seus opositores políticos, adeptos do Catolicismo e dos protestantismos luterano e calvinista.
Com a morte da rainha Elisabeth I em 1603, sem deixar herdeiros, deu-se início à dinastia Stuart com Jaime I (1566-1625). Em seu reinado, a Escócia foi anexada ao reino inglês, e o processo de cercamentos dos campos ganhou forte impulso, agravando ainda mais a tensão social na Inglaterra. No âmbito religioso, Jaime I defendeu o Anglicanismo, promovendo a perseguição aos católicos e puritanos (protestantes calvinistas), o que acabou nutrindo conspirações internas para matá-lo, como a Conspiração da Pólvora (1605), organizada pelos católicos, tendo como objetivo explodir o Parlamento inglês durante o discurso do rei, mas acabaram fracassando. Os conflitos religiosos fizeram com que milhares de refugiados fugissem para as colônias inglesas na América do Norte (atual EUA).
Como um bom monarca autoritário, justificou sua política Absolutista através da teoria do Direito Divino dos Reis. Procurou também enfraquecer o Parlamento ao tentar criar um monopólio régio sobre o comércio de tecidos, o que o tornaria independente financeiramente das decisões do Parlamento. Sem acordo, decretou o fechamento do mesmo em 1614, gerando uma forte insatisfação entre os nobres e também na burguesia.

A guerra civil (1640-49)

 Seguindo as diretrizes autoritárias do pai, o rei Carlos I assume o poder em 1625 após a morte de Jaime I, declarando conflito aberto ao Parlamento. Sem força política devido às guerras externas, reabre o Parlamento em 1628, e os parlamentares tentam frear as ambições absolutistas de Carlos I, exigindo o controle da política financeira, o controle da convocação do exército e regularidade na convocação do Parlamento. O Rei, jogado contra a parede, dissolve novamente o Parlamento ainda no mesmo ano, sem perceber que dessa forma estaria nutrindo ainda mais a fragilidade política na Inglaterra.“Quem quer manter a ordem? Quem quer criar desordem?” O que é a ordem afinal de contas? A ordem depende de quem está no poder e de suas intenções, mas de alguma forma ela sempre é mantida pela força (a polícia serve pra quê? Ela mantém a ordem estabelecida, seja em um Estado Absolutista no século XVII, seja no Brasil capitalista e em Cuba comunista do século XXI).
Há duas formas básicas para que um governante se mantenha no poder garantindo a ordem: ou ele negocia, ouvindo as demais vozes, ou reprime, calando as mesmas. A ordem estabelecida por Carlos I era mantida pela força, através da Câmara Estrelada, órgão responsável pela violenta repressão aos seus opositores.
Atrelando a idéia de unidade política à idéia de unidade religiosa, Carlos I tenta impor o Anglicanismo aos escoceses calvinistas, fazendo estourar uma rebelião que invadiu o norte da Inglaterra. Em meio aos conflitos religiosos e políticos, estoura a guerra civil – guerra civil é uma guerra travada entre pessoas de um mesmo país. A nossa realidade no Rio de Janeiro é de uma guerra civil, pois antes de serem traficantes e policiais, são brasileiros e não desistem nunca – entre os cavaleiros, partidários do Rei, aristocratas e burgueses temerosos pela agitação popular, e os cabeças redondas (tinham esse nome porque não usavam aquelas perucas fru-fru dos nobres), partidários do Parlamento, camponeses, parte da burguesia, os yeomen (camponeses que não eram pobres nem ricos) e a gentry (nobres detentores de terras que enriqueciam com atividades capitalistas). O que dava certa unidade a cada lado era a religião seguida: ao lado do Rei ficaram os anglicanos e alguns católicos, ao lado do Parlamento ficaram os protestantes puritanos e presbiterianos (ambos eram calvinistas).
Os cabeças redondas, liderados por Oliver Cromwell, conseguem por fim à guerra civil, aprisionando, julgando e executando Carlos I, decapitado em praça pública em 1649.

A República Puritana (1649-60)

Com a execução de Carlos I, Oliver Cromwell pôs fim à Monarquia e proclamou a República, apoiado pela burguesia puritana.
Uma das medidas mais importantes tomadas por Cromwell foram os Atos de Navegação (1651), os quais estabeleciam que os produtos importados pela Inglaterra só deveriam ser transportados por navios de origem dos produtos ou por navios ingleses. Essa medida visava fortalecer o poder marítimo inglês, o que prejudicava diretamente a Holanda, cuja burguesia financiava o transporte marítimo, fazendo frete independentemente da origem das mercadorias. A guerra entre ingleses e holandeses, vencida pelos primeiros, garantiu a supremacia inglesa nos mares, decisiva para um mundo cujo comércio mundial se interligava pelos mares.
O movimento revolucionário não era composto somente pela burguesia. Outros grupos menos favorecidos também reivindicavam mudanças, como os levellers (niveladores) e os diggers (escavadores). Os niveladores eram formados em grande pelos soldados que lutaram pela revolução, e queriam além de evitar a desmobilização e não-pagamento de soldo, propunham separação entre Igreja e Estado e proteção à pequena propriedade (rejeitavam dessa forma os cercamentos). Os escavadores possuíam o discurso mais democrático dos revolucionários ingleses, sendo camponeses que propunham a abolição da propriedade da terra através do confisco das terras dos nobres, do Estado e da Igreja Anglicana. Ambos movimentos foram violentamente massacrados por Cromwell, que se aproveitou dos distúrbios para fechar o Parlamento em 1653 e instaurar a ditadura puritana, na qual Cromwell se intitularia Lorde Protetor da Inglaterra.

A restauração da dinastia Stuart (1660-1688)

Cromwell não conseguiu garantir a estabilidade da República em vida, quem dirá após sua morte, em 1658. O clima conturbado entre as camadas populares fez com que a burguesia preferisse o retorno da monarquia sob à dinastia Stuart, sendo Carlos II coroado em 1660.
Parece que Carlos II não lia muitos livros de História, e resolveu cometer erros semelhantes aos que vários governantes fizeram no passado. Primo e aliado de Luís XIV da França, tentou de todas as formas restaurar o absolutismo na Inglaterra, além de se mostrar um ferrenho defensor do catolicismo, desagradando os seguidores das demais religiões.
Em seu governo o Parlamento se dividiu em dois grupos: os Whigs, os quais em sua maioria eram burgueses que defendiam submissão do rei ao Parlamento; os Tories, anglicanos conservadores que, apesar do catolicismo do rei, defendiam o absolutismo monárquico.
A sucessão monárquica após a morte de Carlos II, em 1685, não mudou a diretriz dos interesses régios. Jaime II continuou a orientação política de seu irmão, defendendo o catolicismo e o absolutismo. O Tories, sentindo-se ameaçados com o ideal religioso do rei, resolveram se unir aos Whigs para depor o rei do trono, sendo este movimento chamado de Revolução Gloriosa.


A Revolução Gloriosa (1688)

No lugar de Jaime II, seus opositores convidaram seu genro, Guilherme de Orange, príncipe calvinista que governava a Holanda, enquanto Jaime II fugia para a França, salvando sua garganta real. Intitulado como Guilherme III, o novo monarca jurou a Declaração de Direitos (uma espécie de Constituição), a qual garantia ampla autonomia do Parlamento, responsável pelo direito de aprovar ou não aumento de impostos, recrutar o exército, elaborar leis e fiscalizar o Rei. O Rei reinaria, mas não governaria, pois na prática o governo seria o Parlamento. Deputados eleitos através do voto censitário, ou seja, de acordo com a renda, o Parlamento inglês foi dominado pelas elites, tanto burgueses quanto nobres.
Os conflitos religiosos que há tanto tempo vinham sacudindo a Inglaterra foram finalmente resolvidas com Guilherme III, através da aprovação do Ato de Tolerância, lei que garantia a liberdade religiosa no país, tanto para católicos, calvinistas e anglicanos.