"Eu prefiro ser um otimista e estar errado do que ser um pessimista e estar certo"
Albert Einstein

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Texto complementar - Revolução Russa

Amigos,

Publico um texto complementar sobre a Revolução Russa.

Abraços e bons estudos

Luiz


Revolução Russa (1917)

A Revolução Russa deve ser considerada tão importante quanto à Revolução Francesa de 1789, se pensarmos que ambas tiveram ampla participação popular e lutavam contra governos tiranos e contra o abismo da desigualdade social. Porém, uma dos fatores principais que diferem as duas está no seu desfecho: enquanto na Revolução Francesa temos uma conclusão do processo revolucionário mais ligado aos interesses da burguesia – e consequentemente implicou no desenvolvimento do Capitalismo na França – a Revolução Russa manteve-se como um movimento dos trabalhadores e camadas menos favorecidas, sob o ideário do Comunismo.

Com a Revolução Russa, o Socialismo sai do papel para se tornar realidade. Porém, há que destacar que o forte evolucionismo do pensamento marxista não defendia a revolução em países atrasados e pobres como a Rússia de 1917, e sim em países que já tivessem desenvolvido seu parque industrial – para Marx, o Socialismo daria certo em um país que já tivesse desenvolvido o sistema capitalista, o que estava longe de acontecer na Rússia, ainda com aspectos feudais em pleno século XIX. O sonho de Marx era que a revolução ocorresse na Alemanha, sua terra-natal.

A Rússia Czarista no século XIX

Em pleno século XIX, a Rússia não tinha acabado com a servidão feudal. Pobre, agrária, atrasada em relação aos outros países industrializados da Europa, a Rússia possuía em meados do século XIX uma população de cerca de 150 milhões de pessoas, das quais mais de noventa por cento eram camponeses pobres e 40 milhões de servos, enquanto 25% das terras cultiváveis do país estavam nas mãos da nobreza. As poucas indústrias que surgiram na Rússia durante o século XIX são na maioria investimentos estrangeiros de ingleses e franceses (e sabemos que uma empresa estrangeira não é a mesma coisa que uma empresa nacional, uma vez que a primeira manda parte dos lucros para o exterior).
A Rússia blefava como uma das potências européias da época devido ao tamanho de sua população, pois a mesma tinha em potencial o maior exército da Europa, o que impunha um certo respeito, porém um exército mal-treinado, mal alimentado, trapeado, e isso irá refletir em altas taxas de mortalidade da população russa em guerras.
O Czarismo era o nome dado ao Império Russo que se organizou no século XVI, no qual o Imperador possuía o título de Czar. Nenhuma reforma liberal iluminista tinha ocorrido na Rússia no século XIX, mesmo com a influência da Revolução Francesa, no início deste século, sendo Czarismo um Império absolutista, cujo poder se concentrava nas mãos do czar. O czar reprimia violentamente qualquer manifestação contrária a ordem estabelecida, premiando seus opositores com muitas viagens turísticas sem volta para a Sibéria.
Em 1861 ocorre no Império Russo um processo de liberalização do campo (importante ressaltar que isso faz parte da transição do Feudalismo para o Capitalismo, uma vez que a terra se torna mercadoria) acabando definitivamente com a servidão feudal. Porém, a terra continua sendo mal-distribuída,  deixando a maioria da população sem terra para cultivar. Muitos deles se refugiam para as cidades, num processo de êxodo rural, mas  as condições de vida nas cidades também não eram nada agradáveis.
Com tantos problemas sociais, e com uma forte repressão policial, a Rússia possuía em sua sociedade o germe da revolução. Quando as idéias dos socialistas científicos Karl Marx e Frederick Engels começam a se espalhar pela Rússia, a contestação à ordem vigente ganha força, uma vez que o Socialismo propõe uma alternativa à exploração do homem pelo homem e à desigualdade social.
Uma coisa importante que não podemos confundir: as idéias socialistas surgiram no século XIX, mas não podemos achar que a crítica às injustiças sociais só tenham surgido com essas idéias. Lutas, revoltas, revoluções ocorreram antes do socialismo. O impacto de sua ideologia está exatamente no seu aspecto científico, no qual a sociedade é o seu objeto de pesquisa, e o que indaga os socialistas é exatamente as origens da injustiça social, que para eles está na existência da propriedade privada. Através de suas conclusões, eles propõem uma alternativa, que é a sociedade socialista. Dizer ou achar que a exploração escrava, feudal ou capitalista só foram criticadas no século XIX é muito errado.


A guerra russo-japonesa (1904-1905) e o Domingo Sangrento (1905)

Disputando a região chinesa da Manchúria contra os japoneses, os russos se metem numa guerra da qual saem humilhados, inclusive pelo peso ideológico racial de um país de raça branca perder para outro de raça amarela. Além disso, a derrota intensificou a crise social e econômica interna, aumentando a insatisfação popular e proliferando greves operárias e rebeliões urbanas, ambas duramente reprimidas pelos cossacos (soldados da Guarda Imperial).
Em janeiro de 1905, uma multidão de cerca de 200 mil pessoas cercou o Palácio de Inverno, residência imperial, afim de obter uma audiência com o Czar Nicolau II, na qual entregariam um documento ao mesmo com algumas reivindicações por melhores condições de vida e melhores salários. A movimentação popular foi dispersada a tiros pelas tropas imperiais, matando milhares de manifestantes. Esse trágico episódio ficou conhecido como Domingo Sangrento, e acabou servindo de estopim para uma série de movimentos grevistas e rebeldes por todo o país, desde ocupação de fábricas até invasões de terra por camponeses.
Todo esse contexto de violência e miséria acabou popularizando as idéias socialistas, como alternativa capaz de efetivar a revolução contra o Czarismo na Rússia. Já em 1905, é organizado o primeiro “soviet” pelo líder socialista Trotsky. Soviete era o nome dado a um conselho de trabalhadores que ficava encarregado de coordenar os movimentos grevistas ou de interesses dos trabalhadores. A idéia do Soviete era criar uma estrutura política que permitisse a participação direta dos trabalhadores nas decisões a serem tomadas, e sua composição era livre, englobando analfabetos, operários, soldados e camponeses. Sua proposta política é socialista, uma vez que defendia o controle da produção pelos próprios trabalhadores. Os sovietes teriam papel decisivo na Revolução de 1917.
Sentindo as fortes críticas ao seu governo, o Czar Nicolau II assinou o Manifesto de Outubro, pela qual criava a Duma, um Parlamento composto por deputados eleitos dos vários partidos, inclusive do POSDR – Partido Operário Social-Democrata Russo, criado em 1898, agrupou movimentos contrários ao regime czarista na Rússia, dentre eles os socialistas, como Vladimir Ilich Ulianov, o Lenin. Mais tarde, esse partido sofreu uma divisão entre bolcheviques (maioria) e mencheviques (minoria) – . A promessa de Nicolau II de promover reformas liberais no Czarismo, iniciando uma monarquia parlamentar no lugar do Absolutismo, amenizaram a movimentação política, mas não alterou as condições sociais da população russa. Além disso, a Duma era submetida ao Czar, de forma que o mesmo poderia dissolvê-la, caso contrariasse seus interesses.
O Domingo Sangrento se mostra como um fato histórico de suma importância para termos uma idéia do que é possuir consciência política, que deveria ir muito mais além do que votar de 4 em 4 anos. Por outro, nos mostra que um governo pode ser fundado pela vontade divina, pela vontade do povo, ou do que for, mas se for tirânico, seu poder se torna ilegítimo, e só a violência não é capaz de manter a ordem. Uma ordem, para ser mantida, precisa de apoio social. Se a ordem atual no Brasil nos desagrada, certamente agrada a alguém, mas o que fazemos para alterá-la? Não podemos nos esquecer que os soldados que desertam contribuem para a vitória do inimigo.

A situação se complica: A Rússia na Grande Guerra

O ganho político esperado pelo Czar com a entrada da Rússia na guerra – de forma que uma boa campanha militar poderia servir para aumentar sua popularidade e acalmar os ânimos contra seu governo – logo mostrou-se um remédio extremamente amargo. Em dois anos e meio de guerra, mais de quatro milhões de russo mortos (toda a guerra matou cerca de 9 milhões de pessoas). Além disso, o esforço econômico para sustentar a frágil máquina de guerra russa gerou inflação, escassez de produtos essenciais, acirrando ainda mais os problemas sociais. A guerra foi catastrófica para um país que não estava dando conta nem de seus problemas internos, quem dirá dar conta de suas ambições imperialistas.
Greves e manifestações foram estimuladas pelo POSDR, contrários a participação da Rússia na guerra. O interessante é que nem as forças policiais estão mais reprimindo os manifestantes! O Czar, sem moral, resolve abdicar do trono, e um governo provisório é constituído com o príncipe George Lvov.
É durante a guerra que o partido se divide: de um lado os bolcheviques (maioria), socialistas que acreditavam na revolução socialista imediata, liderados por Lenin. Do outro, os Mencheviques (minoria) acreditavam que o Capitalismo devia ser reformado, para depois a revolução socialista ser feita pela burguesia – que piada – com apoio dos camponeses e operários.
A decisão de Lvov de manter a Rússia na guerra, prometendo uma grande ofensiva contra a Áustria-Hungria, fracassa neste objetivo, gerando uma ampla manifestação em março de 1917 em São Petersburgo – capital do Império – , destituindo George Lvov do poder e colocando o menchevique Alexandre Kerensky.
No momento em que Kerensky assume o poder, três grupos políticos se defrontam: bolcheviques, que queriam a saída da Rússia da guerra, além de defenderem a distribuição de terras e o controle das fábricas pelos operários; os mencheviques, que apesar de serem contrários à guerra não aceitavam a derrota russa; Partido Democrático Constitucional, também chamado de Cadete, composto por membros da burguesia e da nobreza liberal, defendiam a continuidade da Rússia na guerra e não queriam nenhuma modificação social.
A consolidação dos sovietes de trabalhadores e soldados pelos bolcheviques aumentaram sua influência continuamente, dando espaço para o movimento revolucionário. Sob o comando de Trotski, no dia 25 de outubro, os bolcheviques ocuparam os pontos estratégicos do soviete de  Petrogrado (antiga São Petersburgo) e o Palácio do Governo. Kerenski, abandonado por suas tropas, foi obrigado a fugir. A Revolução de Outubro triunfa. Lenin será o presidente do Conselho de Comissários do Povo, espécie de congresso soviete e terá como primeiras medidas a retirada da Rússia da guerra foi concretizada; extinção dos latifúndios, que seriam administrados por comitês agrários de camponeses; controle das fábricas pelos trabalhadores e criação do Exército Vermelho, para defender a revolução, liderado por Trotsky. A Constituição de 1918, criada pelo governo revolucionário, garante a ordem socialista.

A Guerra Civil (1918-1921)

O governo revolucionário conquistou o poder e assumiu o caráter unipartidário (governo apenas do Partido Comunista), mas agora precisaria segurar as forças contra-revolucionárias. O Exército Branco, formado por antigos oficiais do Czar e prisioneiros do exércitos austríaco, receberam amplo apoio das potências capitalistas – que obviamente não queria que o Socialismo, oposto ao Capitalismo, se tornasse uma alternativa real – lutou contra o Exército Vermelho, mas foram derrotados.  A partir de 1921, com a Revolução vitoriosa, o esforço agora seria pela reconstrução do país e reordenamento da economia.

NEP (Nova Política Econômica)

A Rússia, castigada pela 1ª Guerra Mundial e pela guerra civil, estava em ruínas. Como forma de estimular a economia, Lenin decide lançar a NEP (nova Política Econômica), pela qual tenta combinar a economia socialista, com produção controlada pelo Estado, e a economia capitalista, de forma que o governo permitiu participação do setor privado na agricultura, no comércio e em alguns ramos da indústria. Lenin não estava indeciso, ele foi sábio ao pensar num meio termo que dinamizasse e promovesse o desenvolvimento econômico russo. Como investimento estatal, Lenin concentrou nas áreas de energia e extração de matérias-primas, promoveu importação de máquinas para as indústrias e organizou cooperativas comerciais e agrícolas.
Em 1922, várias Estados que faziam parte do Império Russo – no qual os russos dominavam outros povos –  voltaram a se integrar à Rússia, formando a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Muitas pessoas se confundem e acham que a Rússia era a União Soviética, enquanto na verdade a Rússia fazia parte do mesmo, sendo esta a República soviética mais importante, unida a outras quatorze repúblicas.

Morte de Lenin e luta pelo poder

A morte de Lenin, então Secretário-Geral do Partido Comunista, abriu caminho para uma intensa disputa política entre Trotsky e Stalin, ambos do Partido Comunista. Para o primeiro, a revolução deveria constante e a União Soviética deveria incentivar a revolução em outros países, pois o Socialismo não sobreviveria isolado por um mundo capitalista. Para Stalin, o primeiro passo seria o socialismo ser consolidado na própria União Soviética, através da industrialização e da modernização econômica, para depois ser levado para o restante do mundo. Nessa disputa, Stalin venceu, se tornando Secretário-Geral do Partido em 1928, enquanto Trotsky fugiria do país. Mais tarde, este seria assassinado a mando de Stalin em 1940, no México, a golpes de picareta. Quanta picaretagem...
Stalin promoveu, através dos planos quinqüenais, a industrialização soviética, abrindo caminho para a mesma se tornar uma das potências mundiais. Porém, seu governo foi marcado pela brutalidade, matando milhões de pessoas.