Amigos,
Publico um texto complementar sobre a Revolução Russa.
Abraços e bons estudos
Luiz
Publico um texto complementar sobre a Revolução Russa.
Abraços e bons estudos
Luiz
Revolução
Russa (1917)
A
Revolução Russa deve ser considerada tão importante quanto à Revolução Francesa
de 1789, se pensarmos que ambas tiveram ampla participação popular e lutavam
contra governos tiranos e contra o abismo da desigualdade social. Porém, uma
dos fatores principais que diferem as duas está no seu desfecho: enquanto na
Revolução Francesa temos uma conclusão do processo revolucionário mais ligado
aos interesses da burguesia – e consequentemente implicou no desenvolvimento do
Capitalismo na França – a Revolução Russa manteve-se como um movimento dos
trabalhadores e camadas menos favorecidas, sob o ideário do Comunismo.
Com
a Revolução Russa, o Socialismo sai do papel para se tornar realidade. Porém,
há que destacar que o forte evolucionismo do pensamento marxista não defendia a
revolução em países atrasados e pobres como a Rússia de 1917, e sim em países
que já tivessem desenvolvido seu parque industrial – para Marx, o Socialismo
daria certo em um país que já tivesse desenvolvido o sistema capitalista, o que
estava longe de acontecer na Rússia, ainda com aspectos feudais em pleno século
XIX. O sonho de Marx era que a revolução ocorresse na Alemanha, sua
terra-natal.
A Rússia Czarista no século XIX
Em
pleno século XIX, a Rússia não tinha acabado com a servidão feudal. Pobre,
agrária, atrasada em relação aos outros países industrializados da Europa, a
Rússia possuía em meados do século XIX uma população de cerca de 150 milhões de
pessoas, das quais mais de noventa por cento eram camponeses pobres e 40
milhões de servos, enquanto 25% das terras cultiváveis do país estavam nas mãos
da nobreza. As poucas indústrias que surgiram na Rússia durante o século XIX
são na maioria investimentos estrangeiros de ingleses e franceses (e sabemos
que uma empresa estrangeira não é a mesma coisa que uma empresa nacional, uma
vez que a primeira manda parte dos lucros para o exterior).
A
Rússia blefava como uma das potências européias da época devido ao tamanho de
sua população, pois a mesma tinha em potencial o maior exército da Europa, o
que impunha um certo respeito, porém um exército mal-treinado, mal alimentado,
trapeado, e isso irá refletir em altas taxas de mortalidade da população russa
em guerras.
O
Czarismo era o nome dado ao Império Russo que se organizou no século XVI, no
qual o Imperador possuía o título de Czar. Nenhuma reforma liberal iluminista
tinha ocorrido na Rússia no século XIX, mesmo com a influência da Revolução
Francesa, no início deste século, sendo Czarismo um Império absolutista, cujo
poder se concentrava nas mãos do czar. O czar reprimia violentamente qualquer
manifestação contrária a ordem estabelecida, premiando seus opositores com
muitas viagens turísticas sem volta para a Sibéria.
Em
1861 ocorre no Império Russo um processo de liberalização do campo (importante
ressaltar que isso faz parte da transição do Feudalismo para o Capitalismo, uma
vez que a terra se torna mercadoria) acabando definitivamente com a servidão
feudal. Porém, a terra continua sendo mal-distribuída, deixando a maioria da população sem terra
para cultivar. Muitos deles se refugiam para as cidades, num processo de êxodo
rural, mas as condições de vida nas cidades
também não eram nada agradáveis.
Com
tantos problemas sociais, e com uma forte repressão policial, a Rússia possuía
em sua sociedade o germe da revolução. Quando as idéias dos socialistas
científicos Karl Marx e Frederick Engels começam a se espalhar pela Rússia, a
contestação à ordem vigente ganha força, uma vez que o Socialismo propõe uma
alternativa à exploração do homem pelo homem e à desigualdade social.
Uma
coisa importante que não podemos confundir: as idéias socialistas surgiram no
século XIX, mas não podemos achar que a crítica às injustiças sociais só tenham
surgido com essas idéias. Lutas, revoltas, revoluções ocorreram antes do
socialismo. O impacto de sua ideologia está exatamente no seu aspecto
científico, no qual a sociedade é o seu objeto de pesquisa, e o que indaga os
socialistas é exatamente as origens da injustiça social, que para eles está na
existência da propriedade privada. Através de suas conclusões, eles propõem uma
alternativa, que é a sociedade socialista. Dizer ou achar que a exploração
escrava, feudal ou capitalista só foram criticadas no século XIX é muito
errado.
A guerra russo-japonesa (1904-1905) e o Domingo Sangrento
(1905)
Disputando
a região chinesa da Manchúria contra os japoneses, os russos se metem numa
guerra da qual saem humilhados, inclusive pelo peso ideológico racial de um
país de raça branca perder para outro de raça amarela. Além disso, a derrota
intensificou a crise social e econômica interna, aumentando a insatisfação
popular e proliferando greves operárias e rebeliões urbanas, ambas duramente
reprimidas pelos cossacos (soldados da Guarda Imperial).
Em
janeiro de 1905, uma multidão de cerca de 200 mil pessoas cercou o Palácio de
Inverno, residência imperial, afim de obter uma audiência com o Czar Nicolau
II, na qual entregariam um documento ao mesmo com algumas reivindicações por melhores
condições de vida e melhores salários. A movimentação popular foi dispersada a
tiros pelas tropas imperiais, matando milhares de manifestantes. Esse trágico
episódio ficou conhecido como Domingo Sangrento, e acabou servindo de estopim
para uma série de movimentos grevistas e rebeldes por todo o país, desde
ocupação de fábricas até invasões de terra por camponeses.
Todo
esse contexto de violência e miséria acabou popularizando as idéias
socialistas, como alternativa capaz de efetivar a revolução contra o Czarismo
na Rússia. Já em 1905, é organizado o primeiro “soviet” pelo líder socialista
Trotsky. Soviete era o nome dado a um conselho de trabalhadores que ficava
encarregado de coordenar os movimentos grevistas ou de interesses dos
trabalhadores. A idéia do Soviete era criar uma estrutura política que
permitisse a participação direta dos trabalhadores nas decisões a serem
tomadas, e sua composição era livre, englobando analfabetos, operários,
soldados e camponeses. Sua proposta política é socialista, uma vez que defendia
o controle da produção pelos próprios trabalhadores. Os sovietes teriam papel
decisivo na Revolução de 1917.
Sentindo
as fortes críticas ao seu governo, o Czar Nicolau II assinou o Manifesto de
Outubro, pela qual criava a Duma, um Parlamento composto por deputados eleitos
dos vários partidos, inclusive do POSDR – Partido Operário Social-Democrata
Russo, criado em 1898, agrupou movimentos contrários ao regime czarista na
Rússia, dentre eles os socialistas, como Vladimir Ilich Ulianov, o Lenin. Mais
tarde, esse partido sofreu uma divisão entre bolcheviques (maioria) e
mencheviques (minoria) – . A promessa de Nicolau II de promover reformas
liberais no Czarismo, iniciando uma monarquia parlamentar no lugar do
Absolutismo, amenizaram a movimentação política, mas não alterou as condições
sociais da população russa. Além disso, a Duma era submetida ao Czar, de forma
que o mesmo poderia dissolvê-la, caso contrariasse seus interesses.
O
Domingo Sangrento se mostra como um fato histórico de suma importância para
termos uma idéia do que é possuir consciência política, que deveria ir muito
mais além do que votar de 4 em 4 anos. Por outro, nos mostra que um governo
pode ser fundado pela vontade divina, pela vontade do povo, ou do que for, mas
se for tirânico, seu poder se torna ilegítimo, e só a violência não é capaz de
manter a ordem. Uma ordem, para ser mantida, precisa de apoio social. Se a
ordem atual no Brasil nos desagrada, certamente agrada a alguém, mas o que
fazemos para alterá-la? Não podemos nos esquecer que os soldados que desertam
contribuem para a vitória do inimigo.
A situação se complica: A Rússia na Grande Guerra
O
ganho político esperado pelo Czar com a entrada da Rússia na guerra – de forma
que uma boa campanha militar poderia servir para aumentar sua popularidade e
acalmar os ânimos contra seu governo – logo mostrou-se um remédio extremamente
amargo. Em dois anos e meio de guerra, mais de quatro milhões de russo mortos
(toda a guerra matou cerca de 9 milhões de pessoas). Além disso, o esforço
econômico para sustentar a frágil máquina de guerra russa gerou inflação,
escassez de produtos essenciais, acirrando ainda mais os problemas sociais. A
guerra foi catastrófica para um país que não estava dando conta nem de seus
problemas internos, quem dirá dar conta de suas ambições imperialistas.
Greves
e manifestações foram estimuladas pelo POSDR, contrários a participação da
Rússia na guerra. O interessante é que nem as forças policiais estão mais
reprimindo os manifestantes! O Czar, sem moral, resolve abdicar do trono, e um
governo provisório é constituído com o príncipe George Lvov.
É
durante a guerra que o partido se divide: de um lado os bolcheviques (maioria),
socialistas que acreditavam na revolução socialista imediata, liderados por
Lenin. Do outro, os Mencheviques (minoria) acreditavam que o Capitalismo devia
ser reformado, para depois a revolução socialista ser feita pela burguesia –
que piada – com apoio dos camponeses e operários.
A
decisão de Lvov de manter a Rússia na guerra, prometendo uma grande ofensiva
contra a Áustria-Hungria, fracassa neste objetivo, gerando uma ampla
manifestação em março de 1917 em São Petersburgo – capital do Império – ,
destituindo George Lvov do poder e colocando o menchevique Alexandre Kerensky.
No
momento em que Kerensky assume o poder, três grupos políticos se defrontam:
bolcheviques, que queriam a saída da Rússia da guerra, além de defenderem a
distribuição de terras e o controle das fábricas pelos operários; os
mencheviques, que apesar de serem contrários à guerra não aceitavam a derrota
russa; Partido Democrático Constitucional, também chamado de Cadete, composto
por membros da burguesia e da nobreza liberal, defendiam a continuidade da
Rússia na guerra e não queriam nenhuma modificação social.
A
consolidação dos sovietes de trabalhadores e soldados pelos bolcheviques
aumentaram sua influência continuamente, dando espaço para o movimento
revolucionário. Sob o comando de Trotski, no dia 25 de outubro, os bolcheviques
ocuparam os pontos estratégicos do soviete de
Petrogrado (antiga São Petersburgo) e o Palácio do Governo. Kerenski,
abandonado por suas tropas, foi obrigado a fugir. A Revolução de Outubro
triunfa. Lenin será o presidente do Conselho de Comissários do Povo, espécie de
congresso soviete e terá como primeiras medidas a retirada da Rússia da guerra foi
concretizada; extinção dos latifúndios, que seriam administrados por comitês
agrários de camponeses; controle das fábricas pelos trabalhadores e criação do
Exército Vermelho, para defender a revolução, liderado por Trotsky. A
Constituição de 1918, criada pelo governo revolucionário, garante a ordem
socialista.
A Guerra Civil (1918-1921)
O
governo revolucionário conquistou o poder e assumiu o caráter unipartidário
(governo apenas do Partido Comunista), mas agora precisaria segurar as forças
contra-revolucionárias. O Exército Branco, formado por antigos oficiais do Czar
e prisioneiros do exércitos austríaco, receberam amplo apoio das potências
capitalistas – que obviamente não queria que o Socialismo, oposto ao
Capitalismo, se tornasse uma alternativa real – lutou contra o Exército
Vermelho, mas foram derrotados. A partir
de 1921, com a Revolução vitoriosa, o esforço agora seria pela reconstrução do
país e reordenamento da economia.
NEP (Nova Política Econômica)
A Rússia, castigada pela 1ª Guerra
Mundial e pela guerra civil, estava em ruínas. Como forma de estimular a
economia, Lenin decide lançar a NEP (nova Política Econômica), pela qual tenta
combinar a economia socialista, com produção controlada pelo Estado, e a
economia capitalista, de forma que o governo permitiu participação do setor
privado na agricultura, no comércio e em alguns ramos da indústria. Lenin não
estava indeciso, ele foi sábio ao pensar num meio termo que dinamizasse e
promovesse o desenvolvimento econômico russo. Como investimento estatal, Lenin
concentrou nas áreas de energia e extração de matérias-primas, promoveu
importação de máquinas para as indústrias e organizou cooperativas comerciais e
agrícolas.
Em 1922, várias Estados que faziam
parte do Império Russo – no qual os russos dominavam outros povos – voltaram a se integrar à Rússia, formando a
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Muitas pessoas se confundem
e acham que a Rússia era a União Soviética, enquanto na verdade a Rússia fazia
parte do mesmo, sendo esta a República soviética mais importante, unida a
outras quatorze repúblicas.
Morte de Lenin e luta pelo poder
A morte de Lenin, então
Secretário-Geral do Partido Comunista, abriu caminho para uma intensa disputa
política entre Trotsky e Stalin, ambos do Partido Comunista. Para o primeiro, a
revolução deveria constante e a União Soviética deveria incentivar a revolução
em outros países, pois o Socialismo não sobreviveria isolado por um mundo
capitalista. Para Stalin, o primeiro passo seria o socialismo ser consolidado
na própria União Soviética, através da industrialização e da modernização
econômica, para depois ser levado para o restante do mundo. Nessa disputa,
Stalin venceu, se tornando Secretário-Geral do Partido em 1928, enquanto
Trotsky fugiria do país. Mais tarde, este seria assassinado a mando de Stalin
em 1940, no México, a golpes de picareta. Quanta picaretagem...
Stalin promoveu, através dos planos
quinqüenais, a industrialização soviética, abrindo caminho para a mesma se
tornar uma das potências mundiais. Porém, seu governo foi marcado pela
brutalidade, matando milhões de pessoas.