"Eu prefiro ser um otimista e estar errado do que ser um pessimista e estar certo"
Albert Einstein

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Texto complementar - Revolução Francesa (1789-1815)

Pessoal,

Publico o texto que prometi sobre Revolução Francesa. Lembrando que na postagem anterior a essa tem informações sobre a Isenção da UERJ.
Pessoal do Intensivo, há um arquivo do lado direito do Blog com todas as postagens, por mês. é possível encontrar material sobre nossa primeira aula.

Abraços a todos, bons estudos e boas provas!!

Luiz


Brevemente as nações esclarecidas colocarão em julgamento aqueles que têm aqui governado os seus destinos. Os reis fugirão para os desertos, para a companhia dos animais selvagens que a eles se assemelham; e a Natureza recuperará os seus direitos.
Saint-Just; Sur La Constitution de la France, Discours prononcè à la Convention, 24 de abril de 1793

Este discurso histórico feito por um dos revolucionários franceses nos passa  qual influência eles tiveram e quais os seus objetivos políticos. “Nações esclarecidas” são as nações sob a influência do Iluminismo. “Colocar em julgamento” quem tem governado é um ataque direto ao poder divino dos Reis, e ao Absolutismo, que lhes davam direitos sobre as leis. Por fim, “a Natureza recuperará seus direitos” porque é do entendimento dos iluministas, e dos revolucionários franceses, que os homens possuem direitos naturais que não podem ser violados, como a liberdade e a igualdade jurídica.
Se a economia do mundo no século XIX foi formada principalmente sob a influência da revolução industrial inglesa, sua política e ideologia foram formadas fundamentalmente pela Revolução Francesa. Esta não marcou apenas o fim do Antigo Regime na França, mas assumiu um caráter de revolução mundial sob a bandeira do Iluminismo. Suas conseqüências são vistas até hoje em todo o mundo. Os conflitos internacionais entre 1789 e 1917 foram marcados por aqueles que lutavam a favor ou contra os ideais da Revolução Francesa.


A França pré-revolucionária

A França do século XVIII vivenciava uma contradição entre  a estrutura do Antigo Regime naquele país, baseada numa poderosa monarquia absolutista,  e a necessidade da França dinamizar sua economia nos moldes do Capitalismo. Apesar do crescimento do comércio externo francês (cerca de quatro vezes entre 1720 e 1780), ou da dinâmica colonial francesa, com importantes colônias na América, como Saint-Domingue,  a França não era uma potência como a Grã-Bretanha, cuja diretriz política já era determinada pelos interesses capitalistas.
A estrutura da sociedade feudal absolutista francesa travava qualquer tentativa de reformar ou adaptar a produção francesa às suas necessidades econômicas. Era essa visão reformista que Turgot possuía quando se tornou primeiro-ministro no período de 1774-76. Seus objetivos almejavam basicamente: maior eficiência na exploração da terra, liberalismo econômico e maior racionalização da administração, buscando mais eficácia na prática de governar. Porém, tais medidas se mostravam inaplicáveis  ou pouco prováveis de serem bem sucedidas diante do caráter geral da sociedade de Antigo Regime. Dessa forma, sendo o objetivo estimular a dinamização econômica, ficava cada vez mais claro que o Antigo Regime e sua ordem “não davam conta do recado”, sem contar a resistência   dos grupos privilegiados, como o clero e a nobreza.

A realidade da nobreza

A nobreza correspondia a apenas 400 mil pessoas num total de 23 milhões de franceses – a população européia no período é estimada em cerca de 125 milhões de pessoas – . Dentre seus privilégios podemos destacar a isenção de vários impostos (o clero possuía mais isenções fiscais) e o direito de receber tributos feudais, os impostos pagos pelos seus servos. Politicamente, orbitavam diante da monarquia absoluta, que procurava satisfazer seus interesses. A formação de uma noblesse de robetambém chamada de nobreza de toga, oriundos da burguesia que compravam títulos de nobreza frente ao Estadocriada pelos reis  para fins financeiros e administrativos, contribuía para a relativa marginalização da nobreza frente ao poder político efetivo.
A nobreza não possuía e muitas vezes eram até impedidos de exercerem alguma profissão. Economicamente, dependiam diretamente  dos tributos feudais e demais rendas de suas propriedades, ou se fossem nobres pertencentes a uma minoria que mantinha seu status com casamentos milionários ou pensões. A manutenção do status de nobre era elevada, ao mesmo tempo que as rendas dos nobres caíam, corroídas também pela inflação.
No decorrer do século XVIII, como resposta à decadência econômica, a nobreza conquistou gradualmente mais espaço na burocracia estatal, tirando proveito de serem membros de um estado social privilegiado. Não havia concursos públicos para suprirem a demanda humana da organização estatal, sendo a ocupação dos cargos derivadas muitas vezes do privilégio, e não do mérito – capacidade de uma pessoa exercer da melhor forma possível uma função, racionalizando e otimizando a estrutura estatal –.
 Para se ter uma idéia, neste processo de “apropriação do Estado” pela nobreza, em 1780 era necessário ser da alta nobreza para comprar uma patente no Exército, o bispado era composto somente por nobres e as intendências, base da administração, também estava nas mãos de nobres. Dessa forma, a burguesia era colocada para escanteio, enquanto a baixa nobreza procurava desesperadamente reverter sua falência explorando ao máximo os impostos feudais sobre os camponeses. Mas, se a nobreza estava passando por maus bocados, quem dirá os camponeses.


O estopim revolucionário

A França era o maior exemplo de sociedade feudal absolutista de seu tempo. Outros países europeus se espelhavam na França – assim como hoje muitos países buscam se espelhar nos EUA – . A sociedade estamental , dividida em clero, nobreza e povo, definia os pedaços da sociedade que não se misturavam., os estados ou castas privilegiadas, e o terceiro estado, que era a “muvuca”.
A grande maioria dos camponeses não tinha terras ou possuía em quantidade insuficiente, sendo sua situação ainda mais problemática pelo atraso técnico. Além disso, o aumento da população fez aumentar a fome de terra. Os impostos feudais, dízimos e taxas sugavam, junto com a inflação, a renda dos camponeses. Em relação à composição social do Terceiro Estado, cerca de 80% eram camponeses.
Quase a totalidade da população francesa possuía menos da metade das terras. Além desse fato, o clero e a nobreza não pagavam impostos. O 3º estado, a base da pirâmide social, era literalmente a base de sustentação da sociedade, pois eles pagavam impostos. Portanto, a melhor forma de definir a “muvuca” é dizer que o 3º Estado eram todos aqueles que não possuíam privilégios nem terras.
A crise financeira do Estado sem dúvida contribuía para este quadro. O envolvimento da França com a independência americana acarretou na falência de sua economia. O Estado francês gastava cerca de 20% a mais do que arrecadava, e mesmo os desperdícios de Versalhes não eram a matriz da crise, uma vez que os gastos com a corte correspondiam a 6% dos gastos totais, em 1788. Cerca de um quarto constituía gastos com a guerras, a Marinha e a diplomacia, enquanto metade era composta pelo serviço da dívida, os juros dela mesma. O envolvimento com a guerra de independência americana contribuiu diretamente para o colapso financeiro da França. O erro estratégico dos estados privilegiados foi desconsiderar as intenções e a grave crise social e econômica do Terceiro Estado, a casta dos não-privilegiados da sociedade feudal francesa.
Em meio aos graves problemas enfrentados pela França no período, o Rei Luis XVI nomeou o banqueiro Necker como ministro de finanças e convocou a Assembléia dos Estado Gerais, um órgão consultivo que reunia representantes do clero, da nobreza e do povo. Mas qualquer votação beneficiaria os estados privilegiados, uma vez que o voto não era por deputado e sim por estado, e clero e nobreza possuíam interesses em comum. A proposta de cobrar impostos sobre as castas privilegiadas foi facilmente freada na Assembléia, levando os deputados do Terceiro Estado a se rebelarem e organizarem a Assembléía Nacional Constituinte. Vejam bem... NACIONAL... eles queriam representar toda a nação, e não somente o estado social deles. O que constrói o sentimento de nação ou nacionalidade é o sentimento de igualdade desenvolvido pelo Iluminismo: independente do que somos (ricos, pobres etc) somos brasileiros. Antes da Revolução Francesa, isso não ocorria, sendo as pessoas ligadas muito mais ao seu estado social ou casta (portanto ao seu diferencial), ou a sua linhagem (hereditariedade) do que se sentirem semelhantes aos outros pela língua ou cultura. Mesmo assim, somos equivocados em achar que TODOS os países hoje são compostos por uma única nação... no mundo temos diversos exemplos de países com vários povos, muitas vezes rivais (na África não faltam guerras civis por isso).
A reação violenta do Rei Luis XVI, convocando seu exército real para reprimir os revoltosos, desencadeou uma forte mobilização popular, com formação de milícias armadas dispostas a enfrentar as tropas governamentais. A população atacou  e assumiu o controle da Bastilha, uma prisão régia e também um arsenal, no dia 14 de julho de 1789, sendo esta data considerada o início da Revolução Francesa. A fúria da população fez com que arrancassem pedra por pedra da Bastilha. Mulheres, crianças, idosos e homens unidos contra o Antigo Regime. Eles venceram.


A Fase Constituinte (1789-92)

A primeira coisa que devemos destacar é a mistura social que existe no 3º Estado, desde o burguês mais rico até o camponês mais pobre, e os sans – culottes (eram trabalhadores urbanos, artesãos, etc. Tinham esse apelido porque não usavam calças da nobreza, chamadas de culottes. Eram calças estranhas, apertadinhas, que pareciam de bailarina francesa, além daquela peruca para proteger de piolhos... mas os nobres não eram meigos, eram militares...).
O 3º Estado, que foi a parte da sociedade que se rebelou contra o Antigo regime, possuía várias propostas que não necessariamente atendiam aos interesses de todo o mundo. Essas diferenças vão fazer com que a revolução tenha várias fases. A 1ª delas foi a  Fase  Constituinte.
Anterior à elaboração de uma Constituição para a França, a qual garantiria o fim de privilégios sociais e submeter o o governante às leis, os revolucionários redigiram em agosto de 1789 a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, a qual serviria como base para a futura Constituição. Composta por 17 artigos, seus princípios gerais defendiam a igualdade jurídica dos homens, o direito à liberdade individual e de expressão ou opinião, a propriedade – um direito “sagrado e inviolável”, à segurança, a resistência à opressão, e a noção de que os governos são representantes do povo e suas leis devem exprimir portanto a vontade geral da nação. Essa declaração exemplifica tudo o que estava no seio dos interesses da burguesia.
Mas o movimento revolucionário não estava sendo desencadeado só por ela. Os servos queriam a abolição das obrigações feudais, e os ataques camponeses aos castelos e abadias geraram uma onda de insegurança conhecida como o grande medo. A abolição da servidão feudal proposta pela Assembléia Nacional acalmou os ânimos dos camponeses, mas esse fato demonstrou que não seria simples conciliar interesses daqueles que queriam algumas reformas, como a alta burguesia, com aqueles que queriam mudanças significativas na estrutura da sociedade francesa.
Outra medida importante tomada pelos revolucionários foi a criação, em 1790, da Constituição Civil do Clero. Com esta, as terras e riquezas da Igreja foram confiscadas, sanando parte do problema financeiro do Estado, além de laicizar (desvincular a religião do poder político) o Estado francês.


Tolice achar que os outros países absolutistas iam apenas assistir o circo pegar fogo na França, não por peninha dos pobres franceses, mas com medo de que o fogo revolucionário se alastrasse também para seus territórios. A Áustria e a Prússia (hoje uma parte é a Alemanha e outra a Polônia) assinaram a Declaração de Pillnitz, afirmando que interviriam militarmente na França, mandando exércitos de mercenários para acabar com a Revolução e restaurar o Antigo Regime. Pensamos então que o Rei, Luis XVI, estava sob ameaça desses dois países? Não, na verdade o Rei, junto com membros da nobreza anti-revolucionária,, tramavam e conspiravam com os países invasores. Muitos nobres migraram para outros países, organizando a resistência para atacar a Revolução. O Rei, ao tentar fugir do país  para se encontrar com as tropas contra-revolucionárias, em junho de 1791, acabou sendo reconhecido quando estava ultrapassando a fronteira. Dizem que, mesmo disfarçado, ele foi reconhecido quando pagou com uma moeda a passagem pela fronteira, e vejam só, a carinha dele estava estampada na moeda... ele era o Rei!!! E agora, o que fazer com o pilantra fujão e traidor da pátria, Luis XVI?
O povo falava em República. A burguesia, com medo de mais confusão, resolveu defender o Rei. Eles disseram: O Rei é um pobre coitado minha gente... estava sendo seqüestrado pelas tropas invasoras, ele não tava fugindo, tadinho dele... Só que essa história da carochinha irritou ainda mais o povo. Agora vocês imaginem: o povo francês pegou em armas contra inimigos estrangeiros e contra inimigos na própria França, exatamente contra os conspiradores, o Rei e a nobreza, e a burguesia, que queria evitar tumultos. O único amor da burguesia em relação à pátria é pela moeda nacional...
A alta burguesia, como dito antes, queria uma reforma, e não uma revolução. A promulgação da Constituição Francesa, em setembro de 1791, estabelecia a Monarquia Constitucional, sendo Rei o mesmo de antes, Luis XVI, só que agora submetido às leis e com divisão dos poderes em Executivo, Legislativo e Judiciário. Mas democracia estava longe do vocabulário burguês, uma vez que foi estabelecido o voto censitário – voto de acordo com a renda do cidadão – nas eleições para o Parlamento francês. A tentativa de fuga de Luis XVI prejudicou os rumos dados pela burguesia, pois a mesma temia que se a Monarquia fosse abalada, perderiam o controle da revolução. Foi exatamente o que aconteceu: o Rei foi preso pela Comuna Insurreicional – uma milícia composta por populares – em agosto de 1792, ao mesmo tempo em que as tropas revolucionárias obtiveram a primeira vitória militar sobre tropas austríacas e prussianas.
Coma prisão do Rei, a Monarquia Constitucional perdeu sentido. O governo passou a ser executado pela Assembléia, agora denominada de Convenção Nacional.

A Convenção Nacional (1792-95)

O Rei foi preso, e aguardaria julgamento (imaginem como os reis abolutistas engoliram esse acontecimento...). No lugar da Monarquia, criou-se uma espécie de Parlamento, a Convenção Nacional, a qual teria o poder de governo no lugar do Rei.
Muitas e muitas vezes ouvimos na TV ou lemos nos jornais expressões do tipo “Partido dos Safados é de direita”, “Partido dos Pilantras é de esquerda”, ou então fulaninho de tal é de direita, ou de extrema direita. Pois bem, essa nomeação de direita e esquerda tem sua origem na Convenção Nacional. Nela, a alta burguesia, conservadora, contra maiores benefícios para os pobres, sentava nas cadeiras à direita. Eram os Girondinos. Os pequenos burgueses, médicos, advogados e sans-cullottes, mais preocupados com a questão social, distribuição de riquezas e etc, sentavam nas cadeiras à esquerda neste parlamento. Eram os Jacobinos. Exemplo: o Partido Nazista, de Hitler, era um partido de extrema-direita, ou seja, era um partido altamente conservador, ligado aos interesses dos ricos, e era extremo nos métodos para alcançar seus objetivos. O Democratas, do ex-Prefeito César Maia,  é um partido de extrema-direita, o PSOL, da Heloísa Helena, é um partido de esquerda, e por aí vai. Então, se você ouvir que partido e fulaninho é de direita, pode ter a certeza que ele não cheira bem...
Uma coalizão de países vizinhos resolvera atacar a França novamente, e olha que coisa legal: a Inglaterra, que já tinha acabado com absolutismo por lá, estava trocando figurinhas com os monarcas absolutistas... Absurdo? Tsc-tsc. No vale-tudo capitalista, igualdade e fraternidade é só em piada de iluminista português, pois a Inglaterra sabia que se os revolucionários vencessem de vez na França esta poderia se tornar uma forte concorrente capitalista no mercado internacional. A guerra mais uma vez acirrou os ânimos revolucionários, pois guerra gera inflação e fome, e os girondinos – que no primeiro momento estavam à frente na Convenção Nacional – não mostravam eficácia no combate aos problemas sociais e econômicos e nem aos invasores. Os sans-culottes já estavam virando sans-comida, sans-casa, sans-paciência... eles invadiram o prédio da Convenção, prenderam os deputados girondinos (de direita), e apoiaram um novo governo, composto apenas pelos jacobinos (de esquerda).

A radicalização total: A Ditadura Jacobina (1793-94)

Janeiro de 1793. Uma cabeça rola no chão da França. É a cabeça real de Luis XVI, julgado e condenado por tirania e traição, sendo guilhotinado. As gargantas absolutistas da Europa com certeza sentiram uma coceirinha... gulp!
Era a radicalização política. O governo jacobino foi o ponto na Revolução Francesa em que o radicalismo alcançou seu apogeu. Um governo forte ligado aos interesses dos menos favorecidos, liderado pelo advogado Robespierre e Saint-Just.
Os jacobinos criaram a Lei do Máximo, que congelava o preço das mercadorias. Assim, a inflação era freada, ajudando a população pobre a garantir seu sustento, mas em compensação deixando a alta burguesia danada, pois diminuía com isso seus lucros (a burguesia enriquece quando o povão se lasca). Criaram uma nova Constituição e um novo calendário, considerando o ano de 1793 como Ano I (daí imaginem até que ponto chegaram os caras, a ponto de desconsiderar o nascimento de Cristo como marco da nossa cronologia). Eles estabeleceram o sufrágio universal, que é o direito de voto a todos os cidadãos maiores de 21 anos – eles excluíram as mulheres – , e o direito à educação a todos os cidadãos. Além, disso os jacobinos aboliram a escravidão nas colônias francesas e ainda distribuíram as terras dos antigos senhores feudais aos camponeses, realizando uma  reforma agrária.
As tropas estrangeiras, como já foi dito há pouco, estavam marchando novamente em direção à França. Através do Comitê de Salvação Pública, Robespierre e Saint Just convocaram a mobilização geral da população contra os invasores, obtendo importantes vitórias e derrotando-os em seguida. Mas era preciso reprimir aqueles que eram contra o governo jacobino dentro da França. A peseguição desenfreada e a condenação sumária de suspeitos anti-revolucionários matou cerca de 35 mil pessoas. O problema é que nenhum extremismo é bom, com milhares de pessoas presas e centenas guilhotinadas. Muitas delas eram contra a Revolução, mas também muita gente inocente foi presa e punida. Este período é conhecido na história da Revolução Francesa como o Terror, a ponto de líderes jacobinos começarem também a serem perseguidos, como Danton e Hébert.
Apesar das medidas populares, a violência do Terror impopularizou o governo jacobino, abrindo brecha para que os girondinos dessem um golpe contra Robespierre, em julho de 1794. Era a Reação Termidoriana.


O Diretório (1795-99)

A alta burguesia reassume o controle do país novamente, prendendo os jacobinos e executando Robespierre. O governo ficaria a cargo de cinco diretores – o Diretório – .
A Revoulção precisava ganhar um rumo definitivo, mas inimigos externos e internos, além das disputas entre as diferentes classes sociais revolucionárias, impediam essa consolidação. No período do Diretório, realistas – defensores do retorno da dinastia Bourbon sob a Monarquia Absolutista – tentaram desfechar um golpe contra o governo em 1795, mas foram derrotados. Um segmento radical jacobino, liderado pelo jornalista Babeuf, formou uma conspiração revolucionária que tinha por objetivos formar uma sociedade igualitária, extinguindo a propriedade privada: era a Conspiração dos Iguais. Derrotada em 1796, Babeuf foi executado um ano depois.

Mas o que fazer para acabar com as guerras e dar um sossega-leão nos revolucionários mais radicais e nos reacionários?
Normalmente, achamos que apenas um governo forte é capaz de superar os problemas quando tudo vai mal. Foi assim com a Alemanha Nazista, foi assim com a ditadura militar aqui imposta em 1964, e é até hoje quando pensamos em eleger um presidente ansiamos que  ele irá resolver todos os problemas da nossa sociedade.
A França estava cansada de guerra e de instabilidade política. Era necessário uma figura exemplar, um herói, capaz de arrumar a casa e manter os invasores longe do quintal francês. Eis o nome: Napoleão Bonaparte. Através do Golpe do 18 Brumário, a alta burguesia coloca Napoleão no poder, em 1799.

O Consulado (1799 – 1804)

Napoleão foi nomeado Cônsul da França. Tratou de atender os interesses da burguesia, criando o Banco da França e a Sociedade Nacional de Fomento à Indústria, para ajudar a financiar os negócios da burguesia. Mas com certeza, o feito mais importante do consulado napoleônico foi o Código Civil, feito em 1804. A grande maioria dos países hoje usa o Código Civil napoleônico como base para seus códigos civis, inclusive o Brasil. Mas o que é Código Civil? É um conjunto de leis que definem os direitos e deveres  dos civis – pessoas que não são militares e nem da Igreja – dentre esses aqueles relacionados à propriedade. Exemplo: Nós temos direito à propriedade privada (você pode não ter nada na vida, mas pelo menos direito à ter alguma coisa você tem). O que define seus direitos sobre a sua caneta, ou a relação que você tem com seu patrão, está no Código Civil.
Isso foi uma maravilha para a burguesia, porque garantiu através da lei o direito à propriedade. Quanto aos trabalhadores, o Código Civil napoleônico proibia as greves e as manifestações por melhores salários (Napoleão foi posto no governo pela direita lembram?), mas ele foi esperto em não mexer na reforma agrária que a ditadura jacobina havia feito. Bondade? Talvez, mas é preciso lembrar que a maioria da população, cerca de 95%, era composta de camponeses... deixá-los furiosos não seria nem um pouco interessante... aliás, mais interessante ainda era o que o Código Civil napoleônico falava sobre as mulheres: elas deveriam ser TOTALMENTE obedientes aos homens. “Mas peraí professor, o código civil fala de propriedade!” Realmente... as mulheres para a burguesia faziam parte de suas propriedades, de seu patrimônio...
Nós vimos que no processo revolucionário a Igreja perdeu e muito do seu poder: perdeu terras para a reforma agrária jacobina e deixou de receber pensões do Estado. Porém, Napoleão demonstrou que sua habilidade não era só nos campos de batalha, mas na política também, fazendo as pazes com a Igreja em 1801, a chamada Concordata. Nela o Estado francês voltaria a pagar pensões ao clero. Por outro lado, Napoleão ganharia os elogios da Igreja perante aos fiéis, aumentando ainda mais sua popularidade. Quase um “Messias” francês...

O Império Napoleônico (1804 - 1815)

Em 1804, Napoleão propôs um plebiscito – uma consulta ao povo francês – questionando se eles queriam que ele se tornasse Imperador da França. Numa votação em que não faltaram maracutaias e muita fraude, Napoleão Bonaparte agora era Napoleão I, Imperador dos franceses. Uma coisa muito importante que precisa ser ressaltada: no Antigo Regime, o ritual de coroação do novo rei ou imperador era feito pela Igreja, o próprio papa inclusive era quem colocava a Coroa na cabeça do futuro governante. Na coroação de Napoleão, ele simplesmente tomou a coroa das mãos do papa e colocou em si mesmo. Isso significa que para Napoleão, ele estava sendo coroado pelas suas próprias virtudes, pelo seu talento, e não por Deus ou pela Igreja... uma idéia completamente diferente da que existia no Antigo Regime. O baixinho era petulante...
Os países vizinhos continuavam atirando pedras no telhado francês, porém perdiam as batalhas sucessivamente. Mas porquê? O exército nacional francês era muito superior aos exércitos de mercenários. Uma das causas é ideológica: o patriotismo do exército francês dava muito mais garra aos soldados do que os exércitos de mercenários, que não lutavam por um ideal, nem por um país, mas simplesmente por dinheiro. A outra razão era estratégica: a forma em que o exército da França se organizava para a guerra contribuía e muito para suas vitórias. Uma coisa interessante a ser ressaltado no período napoleônico: a França deixa de se defender dos países vizinhos, passando a atacá-los e dominá-los. A melhor defesa é o ataque!! O Império Napoleônico é portanto expansionista (olhar o mapa no final do resumo). A expansão territorial do Império francês levou a Revolução Francesa para os seus vizinhos, acabando com o absolutismo, com o feudalismo e impondo o Código Civil de 1804 nos mesmos.
A França era quase imbatível por terra, não foi à toa que ganhou várias guerras no período. Mas no mar... a marinha inglesa, na batalha naval de Trafalgar, em 1805, arruinou a marinha francesa. Para se vingar da Inglaterra, Napoleão decretou o Bloqueio Continental, proibindo a Europa de comercializar com a mesma. A intensão era fazer com que ninguém comprasse produtos ingleses, levando os industriais e comerciantes à falência, e com eles a própria Inglaterra.
O problema é que alguns países europeus eram dependentes da economia inglesa, e a França não tinha capacidade econômica para abastecer a Europa de produtos antes vendidos pelos ingleses. É nesse contexto em que a corte real portuguesa vêm para o Brasil. Portugal não cumpre o Bloqueio Continental, e Napoleão manda invadir Portugal. Os nobres portugueses, sob a escolta dos ingleses, abandonam Portugal e fogem “heroicamente” para o Brasil, deixando o povo português morrer “heroicamente” com as tropas napoleônicas. Mas os nobres ficaram muito tristes em fazerem isso, até choraram porque estavam abandonando seu povo...
Em 1810, a Rússia decide também descumprir o bloqueio, pois sua economia estava sendo muito prejudicada. Adivinhem o que o Imperador fez... mandou invadir a Rússia.

A queda do Império Napoleônico

A guerra com a Rússia foi uma catástrofe para a França. De 600 mil soldados, só 30 mil voltaram para contar a história. Força do exército russo? Não. A causa se deve à estratégia de terra arrasada utilizada pelo povo russo.. Os russos fugiam para o interior do país, mas antes queimavam tudo o que poderia ser saqueado pelas tropas invasoras. Dessa forma o exército não tinha como se reabastecer, e para piorar  mais ainda, o inverno russo fez milhares de soldados franceses virarem sorvete nos seus 30 graus negativos. Foi a primeira grande derrota da França revolucionária.
O segundo fator para a queda do Império se deve à relação de opressão sobre os países anexados, tendo que pagar tributos, só comprar produtos franceses e ainda ter que deixar de produzir outras coisas para que precisassem comprar da França. O  descontentamento dos povos dominados alimentaram uma ideologia que inclusive fora criada na Revolução Francesa: o Nacionalismo. Era necessário lutar contra o opressor estrangeiro, libertando a Nação.
O Império enfraquecido abriu espaço para que os contra-revolucionários (aqueles que não queriam que a Revolução Francesa tivesse acontecido, pois queriam tudo como era antes, no Antigo Regime) tomassem o poder. Napoleão é preso em 1813 e mandado para a Ilha de Elba, no Mar Mediterrâneo. O traseiro que vai sentar no trono agora é de Luis XVIII, irmão do guilhotinado Luis XVI, restaurando a Dinastia Bourbon Literalmente, era uma tentativa de fazer com que a roda da história andasse para trás, o que é impossível.
Napoleão consegue fugir de sua prisão e volta à França, em junho de 1815. Luis XVIII, ao saber que o convidado especial estava chegando, tratou de dar o pinote, com medo de que sua cabeça também rolasse pelo chão... Bonaparte governou por exatos 100 dias, até a famosa e importantíssima Batalha de Waterloo, quando as tropas francesas perderam para os exércitos da Prússia e Áustria, com o apoio dos ingleses. Dessa vez, Napoleão vai ser mandado para a Ilha de Santa Helena, na costa da África, onde vai morrer em 1821.




Apêndice:

Bandeira do Brasil

Viva o verde-amarelo!!! São as cores da Nação brasileira!! Copa do Mundo você só vê isso pela rua... qual o significado delas? O verde das nossas matas? A riqueza mineral, o ouro? Tudo conversa pra boi dormir. O verde e o amarelo eram as cores da família de Bragança, a mesma do Imperador D. Pedro I e D. Pedro II. Cada família de nobres na Europa tinham suas cores e o seu brasão, representando sua linhagem, sua família.
Quanto ao formato da nossa bandeira, com um losango no meio (não confundam... o círculo azul e a faixa com a frase “Ordem e Progresso” só foram introduzidas na nossa bandeira depois da República. A bandeira do Império brasileiro era parecida com a nossa hoje, só que ao invés do círculo azul, tinha um brasão imperial) foi imitado dos estandartes dos regimentos de Napoleão, que tinham um losango no meio também. D. Pedro I era fã de Napoleão Bonaparte, apesar deste ter invadido Portugal e fazer com que sua família fugisse às pressas para o Brasil. Vira-casaca do contra né... o cara era fã de quem tentou dominar seu país... vamos fazer a mesma coisa... vamos todos virar fãs do Bush!!! Viva os EUA!!


Calendário Republicano

Instituído pela Convenção Nacional em 1793, durante a Revolução Francesa (1789). É um calendário de base solar. O ano começa no equinócio de outono (22 de setembro, no hemisfério norte), data da proclamação da República francesa. É composto de 12 meses de 30 dias, com mais cinco ou seis dias complementares, consagrados à celebração de festas republicanas. No total, são 365 dias e a cada quatro anos há um bissexto.Os nomes dos meses republicanos são baseados nas condições climáticas e agrícolas: vendemiário, brumário, frimário (no outono); nivoso, pluvioso, ventoso (no inverno); germinal, florial, pradial (na primavera); e messidor, termidor e frutidor (no verão).Os meses são subdivididos em três períodos de dez dias, chamados "décadas". Os dias de cada década recebem o nome de primidi, duodi, tridi, quartidi, quintidi, sextidi, septidi, octidi, nonidi e decadi. Em 1805, Napoleão I substituiu o calendário republicano pelo gregoriano novamente.

Hino da Nação

O Hino da França foi escrito em 1792, por um oficial francês, em meio às invasões estrangeiras, pois os vizinhos da França ficaram com medo do vizinho barulhento e resolveram dar um jeitinho. É muito importante que leiam atentamente, não só porque é um hino bonito (apesar de ser francês) mas porque é uma fonte histórica, um documento que vocês podem tirar as suas  próprias conclusões, e não as minhas ou as de qualquer outra pessoa. História é uma construção que nós fazemos, ou fazem por nós.






A Marselhesa



Avante, filhos da Pátria,
O dia da Glória chegou.
Contra nós, da tirania
O estandarte ensanguentado se ergueu.
O estandarte ensanguentado se ergueu.
Ouvis nos campos
Rugirem esses ferozes soldados?
Vêm eles até aos nossos braços
Degolar nossos filhos, nossas mulheres.
Às armas cidadãos!
Formai vossos batalhões!
Marchemos, marchemos!
Que um sangue impuro
Agüe o nosso arado
2
O que quer essa horda de escravos
de traidores, de reis conjurados?
Para quem (são) esses ignóbeis entraves
Esses grilhões há muito tempo preparados?
Esses grilhões há muito tempo preparados?
Franceses! A vós, ah! que ultraje!
Que comoção deve suscitar!
É a nós que consideram
retornar à antiga escravidão!
3
O quê! Tais multidões estrangeiras
Fariam a lei em nossos lares!
O quê! Essas falanges mercenárias
Arrasariam os nossos nobres guerreiros
Arrasariam os nossos nobres guerreiros
Grande Deus! Por mãos acorrentadas
Nossas frontes sob o jugo se curvariam
E déspotas vis tornar-se-iam
Os mestres dos nossos destinos!
4
Tremei, tiranos! e vós pérfidos,
O opróbrio de todos os partidos,
Tremei! vossos projetos parricidas
Vão enfim receber seu preço!
Vão enfim receber seu preço!
Somos todos soldados para vos combater.
Se tombam os nossos jovens heróis
A terra de novo os produz
Contra vós, todos prontos a vos vencer!
5
Franceses, guerreiros magnânimos,
Levai ou retende os vossos tiros!
Poupai essas tristes vítimas
A contragosto armando-se contra nós.
A contragosto armando-se contra nós.
Mas esses déspotas sanguinários
Mas os cúmplices de Bouillé,
Todos os tigres que, sem piedade,
Rasgam o seio de suas mães!
6
Amor Sagrado pela Pátria
Conduz, sustém-nos os braços vingativos.
Liberdade, liberdade querida,
Combate com os teus defensores!
Combate com os teus defensores!
Sob as nossas bandeiras, que a vitória
Chegue logo às tuas vozes viris!
Que teus inimigos agonizantes
Vejam teu triunfo, e nós a nossa glória.
A estrofe seguinte, a sétima, cujo autor continua até hoje desconhecido, foi acrescida em 1792.
7
Entraremos na batalha
Quando nossos anciãos não mais lá estiverem.
Lá encontraremos as suas cinzas
E o resquício das suas virtudes!
E o resquício das suas virtudes!
Bem menos desejosos de lhes sobreviver
Que de partilhar o seu esquife,
Teremos o sublime orgulho
De os vingar ou os seguir.

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